Continuando o post de ontem, onde fiz comparações entre quatro baralhos
diferentes tentando verificar qual seria o mais apropriado entre os Tarôs de
Marselha. Já falei da decepção com o baralho de Jodorowsky/Camoin criada principalmente por causa de todas as promessas de redescoberta dos símbolos, do propósito e do significado "deste monumento da cultura ocidental"... que no fim se mostraram vazias.
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| Baralho de Sanchez/Rodes |
Quando alguém clama haver restaurado algo à sua condição
original, o mínimo que se espera é uma evidência do que é considerado como
original. No seu livro La Vía del Tarot Jodorowsky conta que o baralho
original foi encontrado por eles no México, porém em nenhum momento este baralho
foi exposto e pior ainda não é revelado nenhuma informação sobre quem , quando
e onde este baralho foi feito. O máximo de informação que Jodorowsky dá sobre o
baralho é que ele é de um traçado como o de Marselha, porém pintado à mão. E
assim, foi usado como base para a reconstrução das cores originais.
Para os detalhes que não constam no baralho de Conver,
Jodorowsky diz que “a versão de Nicolas Conver de 1760, possivelmente continha
erros e omissões”. A premissa é a de que os impressores originais eram iniciados
em uma tradição secreta (exatamente qual ele não diz) e quem não fosse um
iniciado faria somente uma cópia, suprimindo detalhes importantes. Então o
trabalho dele e de Camoin foi o de sobrepor diversos baralhos diferentes e
assim verificar quais símbolos apareciam em uns e desapareciam em outros.
Diversos estudiosos do Tarô fizeram algo parecido com o que a
dupla fez e verificaram que eles não só acharam supostos símbolos "perdidos" por impressores 
Relatos dos que participaram dos cursos ministrados por
Philippe Camoin, informam que diversos detalhes nas cartas corroboram a lenda de
Maria Madalena como portadora da semente de Jesus. Uma prova disso estaria no
símbolo cristão do peixe no lago da carta Lua que dirige-se ao útero da personagem
feminina (Madalena) da carta anterior, a Estrela.
Já o baralho da dupla de espanhóis Daniel Rodés e Encarna Sánchez o Tarot de Marsella supostamente possui “os antigos ícones do Tarô reconstruídos”. É praticamente um clone do baralho de Camoin/Jodorowsky. Porém, da mesma forma que a outra dupla, também adicionam detalhes que irão corroborar uma teoria/lenda: a Lenda dos Cátaros, de Maria Madalena etc. A história deste baralho inicia-se quando seus criadores separaram-se da casa impressora de Philipe Camoin criando sua própria escola a Escuela Internacional de Tarot de Marsella - Le Mat. No seu El Libro de Oro del Tarot de Marsella a primeira edição utiliza o baralho Jodorowsky/Camoin. Já a nova edição lançada por outra editora utiliza o baralho pretensamente denominado de "reconstruído".
Conclusão
Ambos os baralhos não são os Tarôs de Marselha
reconstituídos. São Tarôs de Marselha pasteurizados modernos, idealizados
por uma premissa de religiosidade nova era, onde você escolhe no que vai
acreditar e a quem irá prestar culto, resumindo, um fast-food espiritual.
O problema todo é resumido na pretensão que estes autores têm em reclamar que seus baralhos sejam os verdadeiros Tarôs de Marselha, que sejam os Tarôs com suas características tradicionais restauradas... Pois não é verdade, podem ser ótimos baralhos, bonitos e realizados por pessoas competentes e inteligentes, mas que não revelam antigos segredos esquecidos ou perdidos.
O problema todo é resumido na pretensão que estes autores têm em reclamar que seus baralhos sejam os verdadeiros Tarôs de Marselha, que sejam os Tarôs com suas características tradicionais restauradas... Pois não é verdade, podem ser ótimos baralhos, bonitos e realizados por pessoas competentes e inteligentes, mas que não revelam antigos segredos esquecidos ou perdidos.
Como não sabemos exatamente como originalmente foram criadas
estas imagens, quem reconstrói elas no século XXI, está fazendo escolhas no
século XXI. Ao se utilizar vários baralhos diferentes para se chegar a um
baralho novo, não se está recuperando a intenção real de seus criadores, até
por que não se sabe quem criou o Tarô de Marselha. Nestes dois casos analisados
há uma intenção definida ditada por uma teoria ou lenda, forçando as imagens a
terem um determinado aspecto.
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| O novo homem sendo forjado no atanor através do ovo alquímico. De costas está Jodorowsky, no papel do judeu/alquimista, no filme Montanha Sagrada, de 1973. |
Fontes Pesquisadas
- Alejandro Jodorowsky e Marianne Costa, La Vía del Tarot. Grijalbo. México, 2004.
- Alejandro Jodorowsky, A restauração do tarô de Marselha ou A Arte do Tarô. Jodo/Camoin. Paris, 1997.
- MundisTarot - mundistarot.blogspot.com.br/2007/05/elegir-un-mazo-de-tarot.html
- Aecletic tarot Forum - www.aecletic.net
- Foro Tarot de Marsella - http://tarotmarsella.foroactivo.com.es/
- Which Tarot de Marseille Deck Should I Choose? - www.tarot-authentique.com/
- A restauração do Tarô de Marselha em: http://www.clubedotaro.com.br/site/h2317_Marseille-Camoin.asp
- Escuela Le Mat - http://www.tarotmarsella.com/
- Philippe Camoin - http://www.camoin.com/
- TarotPedia - http://www.tarotpedia.com/wiki/Jodorowsky-Camoin_Tarot_de_Marseille





