quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Em Busca do Baralho Perfeito IV... (uma comparação) - parte 1

Jodorowsky/Camoin
Na busca do baralho perfeito comecei uma comparação entre o Tarô publicado pela Heron (que já havia comentado  aqui)  com o baralho restaurado por Jodorowsky-Camoin... Ainda não disponho dos baralhos de Flornoy para realizar qualquer comparação ou estudo. Porém não esperava que isso fosse dar tanto pano para manga. E confesso que o resultado final foi de pura decepção, principalmente com o baralho de Jodorowsky/Camoin (ao lado) pelo qual nutria diversas expectativas. Claro que essas expectativas foram plantadas pelos mesmos e por todas as resenhas positivas que havia lido em português, pois não economizam tinta para dizerem que a dupla fez um trabalho de resgate da “pureza” e da “Verdade Tradicional” do Tarô de Marselha. Quanto mais eu pesquisava, mais verificava que é sim, um belíssimo Tarô de Marselha, mas que não tinha nada a ver com o que pregavam. Tentarei, em dois posts, ser o mais claro possível, condensando meus mais de dois meses de pesquisa.

Informações oficiais sobre o baralho de Jodorwsky/Camoin podem ser encontradas no Clube do Tarô e no próprio site reservado ao baralho da dupla em português.

Heron
O Tarô de Marselha da Heron (à direita) é uma foto-reprodução da cópia preservada na Biblioteca Nacional da França da impressão de 1760 de Nicolas Conver.

Encarnando o Diabo...
Na mesma semana em que comecei este trabalho recebi de um amigo um link para uma série de 22 vídeos: Las Fuerzas Vivas del Tarot. Onde Encarna Sánchez encarna cada um dos personagens dos Arcanos Maiores. Ela apresenta reproduções grandes das cartas do Tarô de Marselha com fundo dourado escuro. Na série de vídeos ela dialoga com as ilustrações, desenvolve situações que relembram o significado e a possível origem das cartas. 

De acordo com ela o baralho apresentado é o baralho marselhês por excelência, pois está com seus "antigos ícones reconstruídos". A mesma proposta de Camoin e Jodorowsky. E não tem como negar, as imagens dos dois baralhos são muito parecidas. Porém, alguns detalhes do baralho da dupla espanhola não está presente no baralho de Jodo/Camoin. No seu site oficial Le Mat - Escuela Internacional de Tarot de Marsella, há alguns comentários sobre suas vantagens, mas nada que explique como essa reconstituição foi realizada.
CBD Tarot de Marseille -
o Tarô de Conver
 restaurado por
Yoav Ben-Dov

Transformei os vídeos para DVD e assim consegui comparar os três baralhos ao mesmo tempo. Coloquei na parada também as imagens digitais da recente restauração realizada pelo israelense Yoav Ben-Dov, que foi aluno de Jodorowsky, o CBD Tarot de Marseille.

Apresento minhas observações:

Todos os quatro baralhos são bem semelhantes tanto no uso de cores, quanto ao posicionamento e gestos dos personagens. Só são iguais o Tarô da Heron e a restauração de Yoav Ben-Dov. O que me faz acreditar que o israelense usou exatamente estas cartas para realizar sua restauração, isso ficou evidente com a comparação entre as Torres de ambos. Há um esfumaçado que permaneceu na versão de Yoav. Ele também tem alguns vídeos no Youtube, onde diz que a modificação que fez foi no traçado dos rostos dos personagens. 

Questionado em um fórum gringo sobre Tarô ele respondeu que “esta não é uma replica do original de Conver, mesmo tentando ser o mais fiel possível ao original, adaptei as imagens para as novas técnicas de impressão e para as sensibilidades visuais da atualidade: cores mais vividas, linhas mais suaves e expressões humanas mais leves".

Uma conclusão já é possível: o baralho restaurado por Yoav Ben-Dov é uma reprodução fiel ao gravado por Nicolas Conver em 1760. Há adaptações, mas nada é adicionado ou subtraído das imagens.
A esfinge no baralho de
Rodés/Sanchez

Agora me intriga os detalhes que os baralhos de Jodorowsky e de Sanchéz possuem, às vezes os detalhes que ora estão presentes em ambos ora estão em somente um. Os dados do Mago, a porta da Maison-Dieu, o ovo do Imperador e da Papisa não estão nas tábuas de Conver e quem for atrás irá verificar que ou vieram de outros baralhos nem tá antigos e que outros detalhes foram adicionados. No vestido da Papisa de Sánchez, há um detalhe que não há em nenhum outro, que seria uma Esfinge (que meda!). Porém em nenhum momento, ninguém diz de onde vieram estes detalhes.

E foi aí que complicou tudo, se estes símbolos não estão em Conver, o que estão fazendo nestes baralhos? Como as explicações nos sites de ambos são insuficientes parti para a pesquisa.

Para não alongar demais, esse post continua amanhã, com tudo o que descobri sobre os baralhos de Jodorowsky/Camoin e de Rodés/Sanchéz.

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