Seu conceito de tarô (no Glossário) foge do senso comum ligado à adivinhação: "baralho de cartas, existente desde o século XIV na França e na Itália, pelo qual se procura conhecer a vida, as tendências e as possibilidades das pessoas."
Pela descrição que ele usa das cartas (duas vezes no texto refere-se ao Mago) ele utiliza o baralho de Rider-Waite-Smith:
"A primeira carta do Tarô representa a figura do Mago. Ele está em pé sobre duas pernas bem firmes no alto de uma montanha. Uma mão aponta para o céu, a outra, para a terra. Em seu chapéu se vê um oito deitado, símbolo matemático do infinito. Sua vestimenta é colorida, metade de uma cor e metade de outra. Sobre a mesa estão seus instrumentos de magia: um bastão, um cálice, uma espada com cabo em cruz, uma moeda. Debaixo da mesa cresce uma flor, expressão da energia da vida e do universo.
Ele é um ícone da existência humana distendida entre o céu e a terra, entre o finito e o infinito, entre o material e o espiritual. Representa o desafio de construir um centro que acolha e dinamicamente sintetize as duas partes. Por isso ele é mago, pessoa capaz de transformar alquimicamente as partes dentro de um modo orgânico: o material com seu peso e espessura e o espiritual com sua leveza e sentido. Uma vez mais a águia e a galinha buscando uma centralidade que confira, simultaneamente, dinamismo, concreção e transparência à vida humana..."
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| Platão (à esquerda) ressaltando a realidade sensível, apontando para o alto. Aristóteles e a primazia da prática concreta, com um movimento descendente. |
Isso tudo é para comparar o Mago com o Platão e o Aristóteles retratados por Rafael em seu afresco "A , Escola de Atenas". A meu ver, é uma comparação infeliz, pois a comparação deveria ter sido feita com outro baralho, no mínimo contemporâneo ou mais antigo à Rafael. Assim, Boff entra na onda dos ocultistas do século XIX deixando-se levar pelo pseudo-hermetismo que supostamente há no Tarô. Estes conceitos mágicos, esotéricos e herméticos são pasteurizados com a individuação junguiana da Nova Era.
Mas a crítica principal é em termos iconográficos. O resto são opiniões minhas. Essa comparação que Boff faz serve para sua argumentação do que são a Águia e a Galinha. Duas formas de viver, de ver a vida integrados no Mago de Waite, como Boff conclui a seguir:
"O arquétipo do sábio nos conduz à última expressão do herói/heroína arquétipo: o mago. Refletimos já sobre o mago do Tarô. Vimos como está conectado com as energias secretas do universo. Como transforma o mundo convencional em mundo mágico. Como transfigura os fracassos em sabedoria: Como recompõe a imagem quebrada em mil pedaços.
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| O Mago de Leonardo Boff. |
O mago consegue criar uma totalidade final sem deixar sobras. Uma sinfonia que recolhe em si todas as disfonias. O mago nos introduz em estados de consciência integradores que nos permitem vislumbrar, a partir de um centro de irradiação e de amor, a unidade de todas as coisas. Ele alarga as dimensões de nosso eu consciente na direção do eu profundo. A partir do eu profundo nos faz mergulhar no oceano divino que nos habita, Deus. Em derradeira instância, nos diz o mago, nós somos um com Deus."


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