quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Despedida...

Após todos esses anos de desenvolvimento e com a aprendizado mais profundo que adquiri do Tarô nos últimos dois anos, a partir de hoje o Viajação deixará de abrigar textos mais extensos e exclusivos sobre o Tarô. Estou inaugurando este outro blog de forma mais profissional o: Tarot Histórico.


Por aqui continuarei a postar resenhas e opiniões sobre livros sobre esoterismo, espiritualidade, história das religiões, mitologia, psicologia. O Viajação, como documento histórico, ficará como um testemunho da minha evolução dos meus estudos tarológicos, no contexto do Brasil do final do século XX e começo do século XXI.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tentando lançar Tarology no Brasil

Essa semana fiz alguns contatos para realizar a tradução e a legendagem do documentário Tarology. Mas tudo é um preço proibitivo para quem não é do ramo. Entrei em contato com uma distribuidora de filmes, mas não se interessaram pelo projeto...

Uma pena, pois este filme além de atrair um grande número de espectadores, teria um papel relevante em desmistificar tanto o Tarô como o leitor das cartas. De fora, as pessoas vêem o intérprete do tarô sob um destes três prismas:
Enriquez incorporando O Mundo.

  • alguém com pacto com satanás; 
  • um louco excêntrico repetidor de chavões; ou
  • como um charlatão qualquer.

Por enquanto esse privilégio desmistificador fica disponível somente para o pessoal dos EUA.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Águia e a Galinha & o Tarô

Encontrei uma referência ao tarô no livro de Leonardo Boff "A Águia e a Galinha" da editora Vozes.


Seu conceito de tarô (no Glossário) foge do senso comum ligado à adivinhação: "baralho de cartas, existente desde o século XIV na França e na Itália, pelo qual se procura conhecer a vida, as tendências e as possibilidades das pessoas."

Pela descrição que ele usa das cartas (duas vezes no texto refere-se ao Mago) ele utiliza o baralho de Rider-Waite-Smith:
"A primeira carta do Tarô representa a figura do Mago. Ele está em pé sobre duas pernas bem firmes no alto de uma montanha. Uma mão aponta para o céu, a outra, para a terra. Em seu chapéu se vê um oito deitado, símbolo matemático do infinito. Sua vestimenta é colorida, metade de uma cor e metade de outra. Sobre a mesa estão seus instrumentos de magia: um bastão, um cálice, uma espada com cabo em cruz, uma moeda. Debaixo da mesa cresce uma flor, expressão da energia da vida e do universo. 
Ele é um ícone da existência humana distendida entre o céu e a terra, entre o finito e o infinito, entre o material e o espiritual. Representa o desafio de construir um centro que acolha e dinamicamente sintetize as duas partes. Por isso ele é mago, pessoa capaz de transformar alquimicamente as partes dentro de um modo orgânico: o material com seu peso e espessura e o espiritual com sua leveza e sentido. Uma vez mais a águia e a galinha buscando uma centralidade que confira, simultaneamente, dinamismo, concreção e transparência à vida humana..."

Platão (à esquerda) ressaltando a
realidade sensível, apontando para
o alto. Aristóteles e a primazia da
prática concreta, com um movimento descendente.

Isso tudo é para comparar o Mago com o Platão e o Aristóteles retratados por Rafael em seu afresco "A , Escola de Atenas". A meu ver, é uma comparação infeliz, pois a comparação deveria ter sido feita com outro baralho, no mínimo contemporâneo ou mais antigo à Rafael. Assim, Boff entra na onda dos ocultistas do século XIX deixando-se levar pelo pseudo-hermetismo que supostamente há no Tarô. Estes conceitos mágicos, esotéricos e herméticos são pasteurizados com a individuação junguiana da Nova Era.

Mas a crítica principal é em termos iconográficos. O resto são opiniões minhas. Essa comparação que Boff faz serve para sua argumentação do que são a Águia e a Galinha. Duas formas de viver, de ver a vida integrados no Mago de Waite, como Boff conclui a seguir:


"O arquétipo do sábio nos conduz à última expressão do herói/heroína arquétipo: o mago. Refletimos já sobre o mago do Tarô. Vimos como está conectado com as energias secretas do universo. Como transforma o mundo convencional em mundo mágico. Como transfigura os fracassos em sabedoria: Como recompõe a imagem quebrada em mil pedaços. 

O Mago de Leonardo Boff.
O mago consegue criar uma totalidade final sem deixar sobras. Uma sinfonia que recolhe em si todas as disfonias. O mago nos introduz em estados de consciência integradores que nos permitem vislumbrar, a partir de um centro de irradiação e de amor, a unidade de todas as coisas. Ele alarga as dimensões de nosso eu consciente na direção do eu profundo. A partir do eu profundo nos faz mergulhar no oceano divino que nos habita, Deus. Em derradeira instância, nos diz o mago, nós somos um com Deus."

domingo, 29 de abril de 2012

Não é de estranhar o sonho que tive hoje.  Recebo a notícia que tenho um filho e que ele e sua mãe estão em dificuldades financeiras. Me deixando muito nervoso."Como que eu tenho um filho e não sei seu paradeiro?; Porque nunca me avisaram dele?". O primeiro movimento foi investigar, onde estavam e quem era essa mãe. Muito sentimento de culpa.


Hoje completo 34 anos...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

"Chaves Gestuais para a Interpretação do Tarô" por Enrique Enriquez

As "Chaves Gestuais para a Interpretação do Tarô", escrito por Enrique Enriquez, serve como introdução ao livreto que acompanha o baralho restaurado de Jean Dodal


É um escrito condensado, que demonstra a forma lírica como Enriquez encara o Tarô, sem fórmulas complexas e sem significados pré-concebidos. 



Terminei de traduzí-lo semana passada e este fará parte do material que pretendo disponibilizar junto com os Tarôs de Jean Dodal e Jean Noblet. 



Tomei a liberdade de mostrar ao próprio Enriquez o resultado. E para minha satisfação e alegria o trabalho foi aprovado!


Deixo com vocês as chaves de Enriquez:


A presença faz o sentido.
À esquerda, lembranças,
à direita, o que virá.
Só aqueles que te olham nos olhos é que vêem o presente.
Que a cabeça mostre sua atenção.
Faça o que a imagem faz, não o que ela diz.
Senta-te passivamente, pare receptivamente, caminhe ativamente
Incorpora teu destino.
Duele com a espada,
construa com o paus,
ofereça uma taça,
plante uma moeda.
Que as mãos mostrem sua intenção.
Esqueça o que é o vermelho, e veja o que realmente é o vermelho,
Detenha-te em um número como se fosse uma montanha, e desnude-se até ficar só em tua armadura;
Porque o que transforma chumbo em ouro também transforma sal em açúcar,
O que se avança um passo, atrasa-se em outro
E o que vistes te desnudarás.
Reconheça uma imagem através de suas amigas
As verdades mais profundas ocultam-se no óbvio.


Maiores explicações sobre estas chaves estão no folheto de Jean Dodal...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Tarô de Waite e o Tarô de Sola Busca

Por acaso, descobri um baralho de Tarô anterior ao de Rider-Waite-Smith que já tinha seus naipes numerados ilustrados. Tirando de Etteilla a pretensa originalidade das ilustrações dos Arcanos Menores. É mais um peculiar baralho (além do de Viéville) que Waite e Smith inspiram-se. Além de outras inspirações já tratadas aqui.

Seguem traduções de dois comentários que achei sobre o baralho e sobre sua suposta inspiração à Waite & Smith:

A Rainha de Copas nos baralhos de Sola Busca e de Waite-Smith
O baralho de Sola Busca é o único baralho completo do século 15. A data mais provável deve ser 1491. As cartas foram gravadas em cobre e depois pintadas à mão em cores. Os historiadores do Tarô, Giordano Berti e Sir Michael Dummett, sugerem que o baralho pode ter sido gravado em Ferrara e iluminado em Veneza. 

Em 1907, o proprietário das cartas, da família Sola Busca , tinha fotografias em preto e branco de razoável boa qualidade (para a época) do baralho completo. Um conjunto destas fotos foram apresentadas ao Museu Britânico (British Museum). Desde aquela época, a plataforma original nunca foi colocada em exposição novamente!

Logo após a recepção das imagens fotográficas em preto-e-branco do Tarô de Sola-Busca, eles foram colocados em exposição no Museu Britânico, em Londres. É provável que a experiência de ver esta exposição tenha servido de estímulo inicial para Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith para posteriormente criarem  seu próprio baralho de Tarô com todos as 78 cartas ilustradas, assim como todo o pacote de 78 cartas de Sola Busca é ilustrado.

Acredito que Pamela Smith teve muita inspiração das imagens renascentistas de Sola Busca. Ambos, Waite e Smith, como membros da Golden Dawn, estavam bastante familiarizados com a Alquimia Renascentista. Smith, em particular, estava familiarizada com roupas renascentistas e o simbolismo das cores, devido ao fato de que ela ter passado vários anos com uma trupe teatral na Inglaterra, tornando-se figurinista e cenógrafa. De fato, há semelhanças entre algumas das cartas numeradas de Sola-Busca e as figuras de Pamela. 


Como foi demonstrado por Giordano Berti e Sofia Di Vincenzo em um estudo publicado em 1995 (Alchemy em Sola-Busca Tarot, Torino - 1995 e Stamford - 1998) este é o primeiro Tarô verdadeiramente esotérico na história, porque suas imagens são claramente inspiradas pela tradição alquimista do Renascimento.

Em 2009, o Museu Pinacoteca di Brera, em Milão comprou o deck por 800 mil euros.

Já foram lançadas reproduções pela U.S. Games, LoScarabeo e uma edição limitada por Wolfgang Mayer. Todas fora de catálogo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Busca do Baralho Perfeito IV... (uma comparação) - parte 2

Continuando o post de ontem, onde fiz comparações entre quatro baralhos diferentes tentando verificar qual seria o mais apropriado entre os Tarôs de Marselha. Já falei da decepção com o baralho de Jodorowsky/Camoin criada principalmente por causa de todas as promessas de redescoberta dos símbolos, do propósito e do significado "deste monumento da cultura ocidental"... que no fim se mostraram vazias.

Baralho de Sanchez/Rodes
Vejo, que em parte eles alcançaram o objetivo de restauração, principalmente em relação às cores, mas de resto... A dupla editou um novo baralho de Marselha, portanto não é uma restauração de um baralho antigo! E a outra dupla Sánchez/Ródes faz o mesmo, adicionando uma cor (horrível) de fundo nas cartas. Repito, infelizmente não há entre estes dois produtos um baralho restaurado, o que há são modificações visando a exclusividade para que se possa cobrar os devidos direitos autorais.

Quando alguém clama haver restaurado algo à sua condição original, o mínimo que se espera é uma evidência do que é considerado como original. No seu livro La Vía del Tarot Jodorowsky conta que o baralho original foi encontrado por eles no México, porém em nenhum momento este baralho foi exposto e pior ainda não é revelado nenhuma informação sobre quem , quando e onde este baralho foi feito. O máximo de informação que Jodorowsky dá sobre o baralho é que ele é de um traçado como o de Marselha, porém pintado à mão. E assim, foi usado como base para a reconstrução das cores originais.

Para os detalhes que não constam no baralho de Conver, Jodorowsky diz que “a versão de Nicolas Conver de 1760, possivelmente continha erros e omissões”. A premissa é a de que os impressores originais eram iniciados em uma tradição secreta (exatamente qual ele não diz) e quem não fosse um iniciado faria somente uma cópia, suprimindo detalhes importantes. Então o trabalho dele e de Camoin foi o de sobrepor diversos baralhos diferentes e assim verificar quais símbolos apareciam em uns e desapareciam em outros.

Diversos estudiosos do Tarô fizeram algo parecido com o que a dupla fez e verificaram que eles não só acharam supostos símbolos "perdidos" por impressores não-iniciados descuidados, assim como transformaram detalhes que originalmente eram dúbios em certezas absolutas. O “ovo” da Papisa, supostamente está no baralho de Suzanne Bernardin (1839) - ao lado - olhe você mesmo a carta e tire suas conclusões. As serpentes na carta Temperança, estão realmente lá? O tetragrama sagrado no esqueleto da morte?  De onde vieram? A porta da Maison Dieu está no baralho impresso por Jean Jerger (1800-1825) e no de Renault em (1820-1840) - ambos abaixo - que nem são baralhos tão antigos.

Relatos dos que participaram dos cursos ministrados por Philippe Camoin, informam que diversos detalhes nas cartas corroboram a lenda de Maria Madalena como portadora da semente de Jesus. Uma prova disso estaria no símbolo cristão do peixe no lago da carta Lua que dirige-se ao útero da personagem feminina (Madalena) da carta anterior, a Estrela.

Já o baralho da dupla de espanhóis Daniel Rodés e Encarna Sánchez o Tarot de Marsella supostamente possui “os antigos ícones do Tarô reconstruídos”. É praticamente um clone do baralho de Camoin/Jodorowsky. Porém, da mesma forma que a outra dupla, também adicionam detalhes que irão corroborar uma teoria/lenda: a Lenda dos Cátaros, de Maria Madalena etc. A história deste baralho inicia-se quando seus criadores separaram-se da casa impressora de Philipe Camoin criando sua própria escola a Escuela Internacional de Tarot de Marsella - Le Mat. No seu El Libro de Oro del Tarot de Marsella a primeira edição utiliza o baralho Jodorowsky/Camoin. Já a nova edição lançada por outra editora utiliza o baralho pretensamente denominado de "reconstruído".

Conclusão

Ambos os baralhos não são os Tarôs de Marselha reconstituídos. São Tarôs de Marselha pasteurizados modernos, idealizados por uma premissa de religiosidade nova era, onde você escolhe no que vai acreditar e a quem irá prestar culto, resumindo, um fast-food espiritual.

O problema todo é resumido na pretensão que estes autores têm em reclamar que seus baralhos sejam os verdadeiros Tarôs de Marselha, que sejam os Tarôs com suas características tradicionais restauradas... Pois não é verdade, podem ser ótimos baralhos, bonitos e realizados por pessoas competentes e inteligentes, mas que não revelam antigos segredos esquecidos ou perdidos.

Como não sabemos exatamente como originalmente foram criadas estas imagens, quem reconstrói elas no século XXI, está fazendo escolhas no século XXI. Ao se utilizar vários baralhos diferentes para se chegar a um baralho novo, não se está recuperando a intenção real de seus criadores, até por que não se sabe quem criou o Tarô de Marselha. Nestes dois casos analisados há uma intenção definida ditada por uma teoria ou lenda, forçando as imagens a terem um determinado aspecto. 

O novo homem sendo forjado no atanor através do ovo alquímico.
De costas está Jodorowsky, no papel do judeu/alquimista,
no filme Montanha Sagrada, de 1973.
Conhecendo um pouco da obra artística de Jodorowsky (principalmente o filme Montanha Sagrada) entende-se que desde muito tempo o autor é atraído à simbologia alquimista. Já sua abordagem terapêutica (a Psicomagia e a Psico-genealogia) dá a pista de como esse projeto começou, em algumas conferências Jodorowsky mencionou o valor terapêutico da trampa sagrada, ou seja, mesmo uma mentira pode ser valiosa quando pode curar alguém. E é público o estado de Philippe (dito Camoin) antes do lançamento deste baralho: estava recluso em sua casa e o único contato que mantinha com o mundo exterior era através da televisão. Se o objetivo público de lançar um Tarô de Marselha reconstituído não foi alcançado, ao menos o objetivo privado foi muito bem atingido.


Fontes Pesquisadas