segunda-feira, 24 de maio de 2010

I Ching

Richard Wilhelm
Fiquei fascinado com as descrições de leitura e interpretação do I Ching em A Prova do Labirinto de Sanchez Dragó, tive vontade de aprender um pouco do que se tratava. Dragó, para saber o que ele poderia encontrar no caminho e se valia pena a empreitada que ele tinha pela frente, consultava o dito oráculo.

Por isso tudo, adquiri esse livro: I Ching - o Livro das Mutações, de Richard Wilhelm, que é um clássico, acompanha uma compilação de diversos textos e comentários que foram adicionados pelos diversos sábios que se deteram sobre as fontes originais. Porém, tive muita dificuldade em entender o sistema de consulta através das varetas, a meu ver o texto não é claro. Queria fazer um teste do oráculo, da mesma forma que Jung relata faz, usando moedas, no seu prefácio ao livro.


Assim como a tradução de Wilhelm é um clássico, assim também é o Prefácio de C. G. Jung. Uma explicação do princípio de acausalidade, por ele denominada de sincronicidade. Onde a coincidência de acontecimentos está intrinsicamente ligada às impressões do observador, ou seja, abrange a subjetividade, "as condições psíquicas dentro da totalidade da situação momentânea".

Um comentário que não é diretamente ligado ao livro:

Em um dos dias de leitura aconteceu algo, no mínimo estranho. Era uma semana que minha esposa estava em um curso em Porto Alegre, onde ela resolveu não voltar para casa e ficar a semana com seus pais. Para fazer a leitura, coloquei um LP bem calmo na vitrola, acompanhando a viagem. Cerca de uma hora depois a agulha já tinha levantado e a atenção com o texto estava profunda só que meu cachorro, o Chico, insitia em ficar latindo. Ele adora latir para os vizinhos, gatos, motos, carroças... Mas nessa hora não tinha nada!

Para resumir a história, depois de pedir, gritar e atirar um chinelo, desisto de ler e fico na soleira da porta esperando ele parar. A irritação era tanta que nem me dou o trabalho de recolocar o disco para tocar, o som fica ligado. O animal percebe minha insatisfação e se aproxima com o rabo entre as pernas, quando ele chega a uns dois metros de distância sinto um arrepio e logo em seguida um barulho no som, como se alguém mexesse nas conexões dos fios, seguindo esse padrão: “tãmm... tãmm, tãmm... tãtãtã”. Os primeiros mais longos e os últimos mais curtos.


Talvez, nunca saberei para quem ele estava latindo!

domingo, 16 de maio de 2010

Primeira Epístola de São João

Sobre o suposto adendo à Epístola de São João que Dragó refere-se no post anterior encontrei essa resposta da Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil. Correspondência retirada daqui:


São João Evangelista nos traços de
Gianni de Luca.
"Recebemos mensagem eletrônica [...] argüindo-nos acerca do motivo por que algumas palavras de 1João 5.7-8 aparecem entre colchetes na tradução de Almeida Revista e Atualizada.
 
Sobre esta questão, precisamos compreender o significado dos colchetes na RA. Isto aprendemos ao ler no artigo "Explicação de Formas Gráficas Especiais, Títulos, Referências e Notas", adendo ao "Prefácio à 2a. Edição": algumas passagens do Novo Testamento aparecem entre colchetes. Estas passagens não se encontram no texto grego adotado pela Comissão Revisora, mas haviam sido incluídas por Almeida com base no texto grego disponível na época (Mt 6.13).
 
Almeida traduziu a Bíblia para a Língua Portuguesa no século XVII. O Novo Testamento em português ficou pronto em 1681. Almeida traduziu-o a partir de um texto grego denominado Textus Receptus ("o texto recebido"), que fora compilado pelo famoso humanista holandês Erasmo de Roterdã no início do século XVI. A tradução de Almeida a partir dos manuscritos que ele possuía em sua época cristalizou-se na chamada Edição Revista e Corrigida (RC), publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil e adotada por inúmeras denominações evangélicas em países de fala portuguesa, destacando-se Portugal e Brasil. A RC espelha bem o teor do Textus Receptus utilizado por Almeida.
 
João Ferreira de Almeida
Quando a tradução de Almeida já estava concluída, Deus permitiu que arqueólogos, historiadores e teólogos verificassem um considerável avanço no achado, recuperação e decifração de manuscritos bíblicos, alguns dos quais indisponíveis a Almeida na época em que traduziu a Bíblia. A Edição Revista e Atualizada (RA) surgiu em 1956 em decorrência dessas novas descobertas, quando a Comissão Revisora da Sociedade Bíblica do Brasil achou por bem confrontar o texto de Almeida com os novos manuscritos encontrados. A RA passou por uma segunda revisão em 1993, afinando ainda mais o texto bíblico aos textos originais em hebraico, aramaico e grego, pelo que é uma das mais amadas e adotadas traduções da Bíblia Sagrada no Brasil e no exterior.
 
Dito isto, fica um pouco mais simples compreender a diferença de tratamento dado àquelas palavras de 1João 5.7-8 na RC e na RA. Na primeira - que corresponde à tradução mais antiga de Almeida - as palavras "no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra" constavam do texto original grego utilizado pelo tradutor. Já na RA, confrontando-se a tradução de Almeida com os manuscritos encontrados (mais antigo e, portanto, mais próximos do tempo em que João escreveu sua primeira carta) e desde que as referidas palavras não contradizem nem ofendem a mensagem bíblica da salvação em Cristo Jesus, estas palavras foram colocadas entre colchetes. Com isto, a RA respeitou o trabalho valioso de João Ferreira de Almeida, sem, contudo, ter aberto mão da fidelidade ao melhor texto original grego a que se tem acesso nos dias atuais.
 
(Nas traduções desenvolvidas pela própria Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil, todavia, como é o caso da Bíblia na Linguagem de Hoje, as palavras questionadas de 1Jo 5.7-9 foram eliminadas por completo do texto bíblico).
 
Por fim, acerca da procedência da palavras questionadas de 1Jo 5.7-8, convém mencionar a opinião do Dr. Bruce Metzger, uma das maiores autoridades atuais sobre os manuscritos gregos do Novo Testamento, que coopera com as Sociedades Bíblicas Unidas, a fraternidade da qual a Sociedade Bíblica do Brasil faz parte. Conforme o Dr. Metzger, todos os manuscritos gregos mais antigos do Novo Testamento (datados dos séculos II e III) omitem as palavras "no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra" em 1Jo 5.7-8. Estas palavras só começaram a aparecer em comentários e sermões sobre o texto de 1João no final do século IV e, muito posteriormente, em um manuscrito latino do século XIII. Segundo o Dr. Metzger, as palavras aqui em questão podem ter sido o comentário que um copista (pessoa encarregada de copiar a Bíblia na Idade Média) fez na margem do pergaminho em que trabalhava; um copista posterior, ao tomar o manuscrito mencionado como texto base para sua cópia, incorporou o comentário marginal do seu outro colega ao texto bíblico, erro que mais recentemente foi descoberto sem grandes dificuldades pela comparação dos manuscritos mais recentes com os mais antigos.
 
Sendo isto para o momento, agradecemos muitíssimo sua paciência e atenção. A Sociedade Bíblica do Brasil faz votos de que o irmão continue sendo um leitor fiel e dedicado da Palavra do Senhor, fonte de orientação e consolo eternos. 
 
Cordialmente em Cristo,"
 
p/ Comissão de Tradução
Sociedade Bíblica do Brasil

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Prova do Labirinto - Sanchez Dragó

Em uma comunidade do Orkut - Cristianismo Esotérico - li uma recomendação para o livro de Fernando Sanchez Dragó: A Prova do Labirinto, da Editora Record/Nova Era.  Encontrei um exemplar bem batido num sebo. É uma história sobre a busca do alter-ego do autor (Dionisio) do "verdadeiro" Jesus Cristo.

A história é bem promissora, por diversas vezes a leitura é instigante, beirando a aventura e o suspense. O final é um pouco frio, meio anticlímax. Pelo menos Dragó é honesto, não há grandes teorias conspiratórias nem segredos à venda. Aqueles mistérios e conspirações construídas no estilo de Código da Vinci.

Na verdade é um livro sobre o processo de escrita de um livro sobre o verdadeiro Jesus (pergunta: quantos já quiseram e quantos querem mostrar/revelar o verdadeiro Jesus?), um exercício de metalinguagem. Nas palavras do autor/alter-ego: "Busca por um Jesus mais cristão e menos católico", pois também de acordo com ele: "as doutrinas e as obras de Jesus têm pouco a ver com o que nos foi contado". Exagerado e pretensioso, não?

Algumas pinçadas:

"O trinitarismo vem do Oriente ou, quem sabe, da Tradição primordial, embora eu não tenha tanta certeza do último".

"Algum cristão conhece hoje a interpolação praticada no capítulo cinco da Epístola de São João? Seu sétimo versículo - "três dão testemunho (de Cristo) no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo" - constitui a única referência bíblica ao que, por erro e açodamento, transformou-se em princípio irrenunciável da ortodoxia católica: o dogma da Trindade. Em 1806 pôde-se comprovar que a frase não constava de nenhum dos manuscritos gregos anteriores ao século XV. Tratava-se de um adendo ocidental, com data do século IV e talvez imputável ao espanhol Prisciliano...."

"O Islã é apenas a resposta ao trinitarismo, dada por aqueles que não podiam e nem queriam renunciar à concepção unitária de Deus."

Para essa busca Dionisio fuma haxixe, conquista várias mulheres lindas e gostosas, trabalha numa casa de prostituição masculina na Índia (ou seja, dando o rabo prostituindo-se)... No mínimo interessante!