sábado, 27 de novembro de 2010

A mais antiga citação ocultista sobre o Tarô

Ao realizar uma pesquisa sobre Papus e suas obras e algum comentário para ajudar na compreensão de seu livro achei o Manifesto para o Futuro do Tarô, de Nei Naiff no Clube do Tarô. É praticamente o mesmo texto que está nos primeiros capítulos do seu livro Curso Completo de Tarô, da BestBolso.

Não farei maiores comentários sobre o texto pois ele é bem curto e de fácil leitura. É recomendado para quem pesquisa o Tarô a partir das obras confusas e complicadas de Lévi, Papus e Waite.

O comentário que quero fazer e que me chamou muito a atenção é sobre o único e mais antigo ocultista que faz diretamente uma referência sobre o Tarô. Diz Naiff: "(...) encontrei somente um único ocultista sem grande expressão que fez uma referência aos quatro elementos em relação ao tarô — Guilleume de Postel (1510-1581)." Essa leitura com mais atenção responde a pergunta que eu havia feito aqui, sobre quais antigos textos tradicionais ele havia se baseado. Fiquei intrigado em ler seus livros, a trilogia sobre o Tarô, para ver se há mais detalhes sobre esse ocultista e como ele constrói essa referência aos quatro elementos.

Fiz uma breve pesquisa e caí nesse artigo da Wikipédia, em inglês. Não há nenhuma referência direta ao Tarô ou aos quatro elementos. O mais próximo que encontrei foi uma citação de Eliphas Levi de História da Magia, comentando sobre os dois aspectos da alma, a intelectual e a emocional, mas são só dois. Que lembra a relação dos quatro elementos com os naipes.

Fica mais essa pergunta: o que Postel postulou sobre o Tarô?

A história do Postel é digna de filme: conheceu e trabalhou com os fundadores da Companhia de Jesus, foi "embaixador" do rei Francisco I no império Turco-Otomano, traduziu diversos tratados astronômicos dos árabes, traduziu e editou o Bahir, o Sefer Yetzirah e o Zohar, foi cartógrafo... E depois de cair de boca nas graças de uma mulher que tinha visões proféticas, que o via como o grande unificador de todas as religiões (pelo menos das conhecidas), foi perseguido pela Inquisição. Por isso ficou preso num monastério até o fim da vida.



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Organizações e Agrupamentos das Cartas de Tarô

Sobre este assunto já havia comentado no post sobre a resenha do livro Curso Completo de Tarô.

Estas propostas de organização e agrupamentos de cartas servem para aprofundar um conhecimento mais íntimo das cartas através das relações com outras e das diferenças que guardam entre cada série.

"... eu gosto é de complicar... "
Oswald Wirth
Como Naiff, não comenta de onde ele se baseou, fui lendo uma coisa aqui outra ali e verifiquei que ele partiu das observações de Oswald Wirth. O brasileiro moderniza a teoria e as relações entre as cartas, mas o grosso é o mesmo.

Proposta de agrupamento de Naiff.

No seu livro O Tarô e o Autoconhecimento, também já resenhado aqui, Geringer apresenta a mesma sequência lógica de Wirth, mas sem mencioná-lo nenhuma vez. E só sei que ela baseou-se copiou de Wirth graças à tradução que Constantino Riemma oferece do livro Le Tarot des Imagiers du Moyen Age, no Clube do Tarô. 








Neste ponto Pedro Camargo (livro resenhado aqui) é mais honesto que Geringer, pois seu texto traz diversas referências e citações de Wirth (acredito que traduzidas por ele).

O que difere deste agrupamento de Wirth, usado por Camargo e Geringer, do proposto por Naiff é a ordem da segunda fileira, dos arcanos XII ao Louco. Em Wirth esta segunda fileira lê-se da direita para a esquerda, para seguir a forma do círculo; enquanto que em Naiff onde não há a questão de dispor as cartas em um círculo (TARO - ROTA - ORAT etc.) segue a ordem da esquerda para a direita, mas são os mesmos arcanos: do Pendurado ao Louco. 

Proposta de agrupamento de Wirth.

Na minha interpretação Naiff moderniza a proposta, deixa-a mais clara, qualquer pessoa consegue ler e fazer comparações com sua própria vida com suas experiências. Wirth está inserido naquela tradição dos ocultistas do século XIX começo do século XX, onde era imperioso encher as frases de floreios e referências a templos, sábios, livros conhecidos somente indiretamente.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Iniciação ao Tarô - Pedro Camargo


Quero apresentar um pequeno, mas muito bom livro. Escrito de forma clara e concisa. Sem querer defender o autor ou sua obra, quero mostrar o que me chamou a atenção e que acredito que deva ser mencionado. Com a evolução da leitura gosto de verificar onde o autor baseia suas idéias e quem sabe tirar algo de proveitoso. Na bibliografia há uma série de livros sobre Tarô que ainda não tinha ouvido falar:  Piotr Ouspensky;  Mouni Sadhu e Oswald Wirth.

De todos eles, e pelos comentários do Pedro, me chamou a atenção o  trabalho de Mouni Sadhu. Fiz uma pequena pesquisa e no próximo post falo um pouco mais sobre ele.

Destaco seus comentários sobre a adivinhação. Seguindo o mote de que: " A tendência da vida é dar certo", Camargo desenvolve sua visão sobre destino e a natureza das consultas às cartas (aliás esse mote me lembra essa música do Raul Seixas). De acordo com o autor, se a tendência da vida é dar certo, então saberemos que em um aparente fracasso estamos dando o primeiro passo para o sucesso. Assim, a consulta do Tarô será para, defronte do infortúnio, encontrarmos o melhor caminho a ser trilhado. Esta visão retoma um conceito importante de Nei Naiff ao comentar o caminho que o Enamorado inaugura: "A liberdade tem o seu preço - o livre arbítrio; e o livre-arbítrio tem o seu peso: a escolha do caminho correto". Isso é algo bem parecido como que os Kabalistas do século XXI têm se detido, ou seja, para eles o Criador, ou a Luz - como chamam Deus -, nos oferece situações-problema que são oportunidades para que descubramos uma forma melhor de lidar com nossas incapacidades e incompreensões e assim desenvolvermos nossas potencialidades.

As cartas do Tarô mostram tendências que estão ocorrendo em nossa vida e aquilo que pode ser uma boa saída, desta forma, cabe a nós tomarmos as medidas necessárias, ou não.

Camargo, lembra então do filósofo iluminista Voltaire, que este não acreditava em preces onde o homem pede a intervenção divina, ilustra essa idéia com a seguinte citação retirada da novela Zadig, ou O Destino: "Dirigimos súplicas a um homem quando julgamos que ele possa mudar de opinião. Quanto a Deus , cumpramos nosso dever para com ele. Sejamos justos. Esta é a única opção verdadeira."

Alertando às complexidades desnecessárias que muitos comentadores do Tarô fazem, Camargo afirma, que o Tarô é uma experiência pessoal e que faz parte do saber que só podemos ter acesso através da experiência, da meditação e da "profunda honestidade para conos co e com a vida".

E para terminar Camargo defende o uso do Tarô de Marselha, aqui estão alguns de seus argumentos:
"A maioria [dos baralhos em uso na atualidade] apresentam características demasiado presas à visão pessoal de seus autores, o que pode comprometer a síntese dos baralhos tradicionais, cuja simplicidade atende melhor à função do símbolo na linguagem associativa: sugerir, ser abrangente e não restritivo, promover a prática da analogia. Em outras palavras, favorecer o exercício do autoconhecimento." (pg. 35)
"... [o] Tarô de Marselha, cuja simplicidade dos desenhos, cores primárias e fundo branco cumprem necessariamente sua função de veículo de contato com o inconsciente." (pg. 40)
"... aparentemente "pobre", o Tarô de Marselha nos surpreende a cada momento pois seu poder de síntese e sutileza de seus elementos, cumprindo necessariamente a função do símbolo, que é sugerir, proporcionando associações que se processam em nível energético, inconsciente, e permitindo assim que cada indivíduo realize a sua própria viagem." (pg. 41)