sábado, 30 de outubro de 2010

Curso Completo de Tarô

No Curso Completo de Tarô de Nei Naiff publicado pela Editora BestBolso, é um título perfeito para o livro, a obra está organizada em lições, das mais simples às mais complexas, a cada duas ou três lições há um teste. Fantástico! Para quem estava lendo os trabalhos rebuscados de Waite (que gostava de falar, falar sem revelar muito) e Papus com suas fórmulas hebraicas e superstições. Esse livro vem como um alento sobre o fogo do desentendimento e da confusão. A escolha e organização dos temas, do mais simples ao mais complexo, também foi muito bem realizada, ajudando na compreensão e dando confiança ao iniciante.

A história do Tarô sem elucubrações e invencionices, as cartas do Tarô são somente papéis com desenhos... estas são algumas das aterrizagens que o autor proporciona para quem está viajando lá na estratosfera, como eu há bem pouco tempo! A leitura das suas três primeiras lições e das três primeiras aulas eletivas em conjunto do seu Manifesto para o Futuro do Tarô, é uma bomba para qualquer ilusão quanto ao Tarô e todas as loucuras que conseguiram inventar.

Porém, muito do que o autor propõe não há referências ou guias de onde veio a inspiração para esse tipo de organização. O primeiro exemplo é quando ele separa os 22 arcanos maiores em seis conjuntos distintos. Cada conjunto ele chama de caminho. Do Mago até o Papa temos o Caminho da Vontade; Caminho do Livre-Arbítrio com o Enamorado; do Carro até a Força temos o Caminho do Prazer; do Pendurado à Torre temos o Caminho da Dor; a Estrela representa o Caminho da Esperança; e o Caminho da Evolução é representado pelos últimos arcanos mais o Louco. É uma ótima categorização dos Arcanos Maiores, facilita o aprendizado e a memorização, pois ao invés de se memorizar 22 cartas ao mesmo tempo, tem-se uma série definida com um tema em comum. Porém, para mim, faltou uma explicação de onde vem essa estrutura? É a verdadeira estrutura? Se foi concebida pelo autor, onde e como ele a construiu?

O outro exemplo refere-se às manifestações, quatro para cada Arcano Maior e uma para cada naipe dos Arcanos Menores. Fica a pergunta: qual a base para essa diferenciação bibliográfica? Espiritual? Profissional? Intuitiva? Bem no final do livro ele diz que os "de acordo com antigos textos tradicionais dos quatro elementos", mas não diz que textos ou que autores são estes.

O baralho trabalha no livro foi desenhado por Thais Linhares especialmente para essa edição, mas segue o padrão do Tarô de Marselha.

Melhor frase dele: "Tarô é Tarô..." Simples, profunda e vale ouro!!!











sábado, 16 de outubro de 2010

El Colgado - Sheldon Kopp


Como percebi certo interesse dos leitores pelo livro mencionado no post anterior resolvi pesquisar um pouco mais sobre ele.

Começo falando da capa, que considero muito boa. Retrata ou lembra diversos dos Arcanos Maiores do Tarô de Marselha, apesar de no interior Kopp utilizar o Tarô de Waite-Smith. 

A apresentação do livro, resumidamente, diz isto: 

"Como assumir o demoníaco que existe em nós?

A herança que o guru contemporâneo tem recebido inclui as metáforas curativas  do mestre zen, do rabino chassídico, do eremita cristão do século IV, dos bruxos, dos "Homens de Medicina" e os magos. Tal afirmação nos previne sobre as características deste livro singular, que é como um jogo feito de contos hindus, alegorias, relatos chassídicos, modernas sessões de psicoterapia...

O autor recupera os mitos e os arquétipos de Jung, para que aceitamos viver com mais inteligência em nosso próprio claro-escuro: o lado da luz e da sombra, antecipado no duplo sentido das cartas do Tarô.

Este livro é uma caixa de pandora, de deliciosa leitura: ensina enquanto diverte, nos coloca frente a nós mesmos e nos diz: lê a ti mesmo."

Aqui um pequeno comentário traduzido e com certas adaptações, do psicoterapeuta argentino Arthuro Philip:

"El Colgado” que tem como subtítulo “La psiquiatría y las fuerzas de la oscuridad”, que possuo exemplar da editorial Alfa Argentina editado em novembro do ano 1976 (velhinho porém atual). Esse livro é destinado a profissionais da saúde mental, mas isso não impede sua compreensão pois está escrito com uma linguagem acessível (...).
É um excelente livro escrito por um colega psicoterapeuta enquanto lutava contra um câncer de cérebro, em corajosa empreitada para transmitir seus conhecimentos antes de morrer. Escreve sobre vários arquétipos humanos próximos a nós que C. G. Jung trata, um deles é o do Trickster, ou do Bobo."

Volta e meia aparecem exemplares surradinhos no MercadoLivre argentino e uruguaio... Mas é muito ruim fazer esse tipo de compra, pois o ML brasileiro não é integrado ao dos outros países da América Latina.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Manual do Tarô - Hajo Banzhaf

Como já havia ficado impressionado com o didatismo de Hajo Banzhaf, aqui. Resolvi me aventurar neste Manual do Tarô.

Este livro do Banzhaf (também da Editora Pensamento) foi lançado antes do Livro do Tarô (onde o alemão irá aprofundar sua abordagem didática abrangendo todos os passos na realização de uma leitura). No Manual do Tarô, Hajo faz uma análise de cada uma das cartas tanto do Tarô de Waite quanto do Tarô de Marselha.

Para cada um dos Arcanos Menores ele traz relações e associações, entre outros, com uma letra do alfabeto hebraico; com a Numerologia; uma citação de Jung; uma citação literária; um comentário seu sobre a interpretação da carta, na Síntese; e uma história, que geralmente é um complemento da citação literária (com Rudyard Kipling, Alan Watts, Albert Camus, Herman Hesse, Sheldon Kopp, Oskar Adler, Robert Pirsig, José Ortega y Gasset, John Fowles. Isso é ótimo, pois acredito que o entendimento sobre o que cada carta representa alcançamos através de duas maneiras: ou pelas nossas experiências ou, se não há temos, pelos livros que vivemos.

Nestes exemplos de citações literárias alguns foram bem fáceis de achar, como Kipling, Pirsig e Hesse. Porém outros foram muito difíceis, isso deve-se ao trabalho do tradutor que não se dignou a procurar o nome dos livros como foram publicados no Brasil. A obra citada por Hajo de Albert Camus foi lançada no Brasil como Bodas em Tipasa, quem procurar como "O Casamento da Luz", como foi traduzido, não achará nada. Do psicoterapeuta Sheldon Kopp realmente não tem nada publicado em português, mas o nome do livro citado poderia ter sido traduzido como O Pendurado. Este livro foi publicado na Argentina pela Editorial Alfa Argentina, em 1976, com uma capa linda - sim, continuo julgando um livro pela capa... A obra de Oskar Adler ganhou no Brasil o título de Psicologia Astrológica, na Argentina: La Astrología como Ciencia Oculta. Já a de Ortega y Gasset recebeu, no Brasil, o título de O Homem e a Gente.


Voltando ao Manual. Quanto aos Arcanos Menores ele propõe uma aproximação interessante. Que realmente me ajudou na compreensão destas cartas, tanto no que elas representam dentro da série de números, por exemplo: 1 é o impulso, 2 é a polaridade, 3 é a estabilidade, 4 é a estabilidade rígida, 5 - é o medo, 6 - crise, 7 - harmonia, 8 - depressão, 9 e 10 - positivo para moedas, excessivo para espadas e bastões. Quanto na associação dos naipes aos  quatro elementos, em uma " Correlação interna das séries", Banzhaf cria textos seguindo a ordem de Ás até Dez e vice-versa, cada série seguirá o mote do elemento que a rege e da primeira carta. Por exemplo, se a série for de Bastões (fogo) começando por Ás até Dez, o mote será: "O caminho da vontade, do crescimento e da fama". Já se for do Dez de Bastões até o Ás será: "O caminho do jugo do dever para o livre desenvolvimento". 

Os quatro elementos de acordo com o alquimista  Isidorus Hispalensis.
A associação de elementos e naipes é a mesma usada por Nei Naiff, porém Banzhaf não diz em momento algum qual a origem desta associação, ele embasa essa associação com autores modernos como o astrólogo Stephen Arroyo e com o homeopata e analista junguiano Edward Whitmont.

Até chegar a isto ele repete ecos de Papus, Lévi e Waite ao fazer diversas associações mitológicas, hebraicas, zodiacais... que me fatigam. Algo que ele não fará em O Livro do Tarô.

Com este livro Banzhaf reforça o uso e a escolha que fiz pelo baralho de Waite, pois apesar de ele analisar o Tarô marselhês toda sua interpretação segue as figuras de Waite e Smith.


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Tempo e os Oráculos

No post sobre a resenha do livro de Hajo Banzhaf comentei sobre as reflexões filosóficas que ele faz em relação ao tempo e aos sistemas de adivinhação. Trago algumas citações e meus comentários.


"Do ponto de vista espiritual, o tempo não é apenas uma quantidade, um período de tempo que transcorre a esmo. O tempo é uma qualidade que atribui a cada momento seu próprio significado. Esta é a concepção que norteia a maioria dos oráculos. Enquanto os ponteiros do relógio mostram apenas uma quantidade de horas, a posição dos astros no céu é uma manifestação do acaso que pode significar alguma coisa ( uma "qualidade") em determinado momento. De um ponto de vista mais abrangente, pergunta e resposta constituem uma unidade, pois o momento da pergunta também inclui a resposta. assim, uma pessoa capaz de entender a qualidade do instante consegue ler a resposta com base em certos símbolos. Esta é a essência do acaso: numa constelação causal, é possível identificar a qualidade do instante. O objetivo de muitos oráculos, cada um à sua maneira, é possibilitar a interpretação destes símbolos." [pg. 12]


Mas se o Tarô é preciso dentro de uma perspectiva acausal, então se eu deitar as cartas cinco vezes necessariamente deveria receber a mesma resposta cinco vezes, não? A resposta é obviamente não. Olha o argumento de Hajo: "provar alguma coisa pelo método de repetir um experimento várias vezes, a fim de obter o mesmo resultado é típico da mentalidade racionalista. Para garantir o sucesso desse método, cria-se um ambiente de laboratório que exclui todas as interferências do acaso, até onde for possível. Portanto, o acaso é visto como um obstáculo que precisa ser removido. Por outro lado, no mundo irracional dos oráculos o acaso é uma fonte valiosa de informações. A disposição de cartas no Tarô produz uma constelação única e casual, que reflete a qualidade especial daquele momento. O fato de que esta constelação não se repete sempre é totalmente natural, e não significa nada. Um paralelo fácil de entender é o mundo dos sonhos, pois um sonho pode significar muitas coisas sem que a pessoa tenha de sonhá-lo cinco vezes seguidas. Da mesma forma, quando se procura um conselho ou uma resposta no Tarô, só a primeira consulta é decisiva." [pg. 12] É o mesmo tipo de objeção pelo qual tenta-se provar a inexistência de Deus.
O método científico é ótimo para entender e explicar fenômenos quantificáveis, que mesmo que estes não consigam ser repetidos em um ambiente seguro, pelo menos encaixam-se em hipóteses e modelos explicativos lógicos.

E por mais que a psicologia evolutiva tente explicar e dar um caráter utilitário a paixão, ao amor e à amizade, ela só está explicando parte destas manifestações, pois jamais conseguirá compreender-lhes as sutilezas e as qualidades inerentes a estes fenômenos.

A reflexão de Banzhaf continua assim: "É possível confiar cegamente nas cartas? Elas nunca mentem? Naturalmente, como em todas as situações da vida, o Tarô nos dá acesso a uma verdade objetiva, absoluta e infalível. Mas nem por isso a resposta das cartas é aleatória ou sem sentido. A credibilidade das cartas do Tarô só pode ser comparada aos conselhos de uma pessoa velha e sábia. São conselhos valiosos, que devemos levar a sério e ouvir de coração aberto. Mas vender a alma por eles, tornar-se dependente, sujeitar-se cegamente ou abrir mão das próprias responsabilidades seria com certeza uma atitude errada."[pg. 12-13]

E para concluir: "Quando a resposta do tarô não é um conselho, mas uma previsão sombria, é preciso considerar que as cartas mostram uma tendência que deve se realizar com toda a probabilidade, caso você continue agindo da mesma maneira ou continue seguindo o caminho mencionado em sua pergunta. Essa tendência não é inevitável, pois as cartas podem mostrar alternativas melhores, ou mais promissoras." [pg. 19]

"[...] Fases difíceis da vida são às vezes inevitáveis, e certas experiências podem causar decepção, tristeza ou desgosto. O tarô também pode ser útil nesses momentos, ajudando-nos a entender os motivos de uma determinada experiência, a lição que ela nos ensina e a melhor maneira de lidar com ela." [pg. 19]

sábado, 2 de outubro de 2010

O Livro do Tarô - Hajo Banzhaf

Após um período estudando e quebrando a cabeça com as teorias e proposições vagas de Papus, Waite e Lévi, resolvo deixá-los um pouco de lado. Esse passo libertador só consigo fazer após a leitura dos textos de Nei Naiff. Ufa!

Então, estou me aprofundando tanto na abordagem do brasileiro quanto na do alemão Hajo Banzhaf. Hoje comento "O Livro do Tarô" deste último, lançado pela editora Pensamento. 

Para Banzhaf não importa a origem do tarô pois"transmite uma sabedoria de tempos antigos, enraizada no inconsciente coletivo!... por isso não importa se as cartas (...) surgiram há 500 ou 5000 anos. As imagens [reproduzidas] são mais antigas que a invenção do papel e da tipografia."

O Tarô através de seus Arcanos Maiores é uma viagem arquetípica que encerram uma sabedoria sobre o destino dos homens.

Apesar do alemão não indicar um baralho como mais "certo" ele claramente sugere (principalmente aos novatos) o Tarô de Rider-Waite, que contêm ilustrações dos Arcanos Menores ao contrário do Tarô de Marselha que "são ilustradas de maneira tão pouco sugestiva". Aconselha evitar baralhos da moda e baralhos "complicados" como o de Crowley que merecem um estudo mais profundo não só de sua simbologia, mas também da doutrina esotérica que os cerca.

O alemão torna-se profundo e filosófico ao conceituar o Tarô como um sistema que atribui um sentido ao acaso.

É apresentado de forma detalhada as formas adequadas de se fazer as perguntas e dependendo do teor destas há uma orientação de qual sistema de disposição usar. A partir disso, o livro organiza-se a partir de três esquemas básicos para disposição das cartas, as perguntas mais frequentes irão encaixar-se de uma maneira melhor em algum deles, que são: 'A Bússola' (qual decisão tomar), 'O Oráculo do Amor' (sentimentos) e 'O Ponto Cego' (auto-conhecimento). Assim, cada carta além de sua interpretação geral será apresentada ocupando uma posição dentro de algum destes esquemas. Quem tiver cara-de-pau coragem suficiente pode oferecer uma leitura completa utilizando o livro junto!!!

É uma obra didática, moderna e muito clara que ajuda a entender cada um dos passos que envolvem a interpretação do Tarô.