No post sobre a resenha do livro de Hajo Banzhaf comentei sobre as reflexões filosóficas que ele faz em relação ao tempo e aos sistemas de adivinhação. Trago algumas citações e meus comentários.

"Do ponto de vista espiritual, o tempo não é apenas uma quantidade, um período de tempo que transcorre a esmo. O tempo é uma qualidade que atribui a cada momento seu próprio significado. Esta é a concepção que norteia a maioria dos oráculos. Enquanto os ponteiros do relógio mostram apenas uma quantidade de horas, a posição dos astros no céu é uma manifestação do acaso que pode significar alguma coisa ( uma "qualidade") em determinado momento. De um ponto de vista mais abrangente, pergunta e resposta constituem uma unidade, pois o momento da pergunta também inclui a resposta. assim, uma pessoa capaz de entender a qualidade do instante consegue ler a resposta com base em certos símbolos. Esta é a essência do acaso: numa constelação causal, é possível identificar a qualidade do instante. O objetivo de muitos oráculos, cada um à sua maneira, é possibilitar a interpretação destes símbolos." [pg. 12]
Mas se o Tarô é preciso dentro de uma perspectiva acausal, então se eu deitar as cartas cinco vezes necessariamente deveria receber a mesma resposta cinco vezes, não? A resposta é obviamente não. Olha o argumento de Hajo: "provar alguma coisa pelo método de repetir um experimento várias vezes, a fim de obter o mesmo resultado é típico da mentalidade racionalista. Para garantir o sucesso desse método, cria-se um ambiente de laboratório que exclui todas as interferências do acaso, até onde for possível. Portanto, o acaso é visto como um obstáculo que precisa ser removido. Por outro lado, no mundo irracional dos oráculos o acaso é uma fonte valiosa de informações. A disposição de cartas no Tarô produz uma constelação única e casual, que reflete a qualidade especial daquele momento. O fato de que esta constelação não se repete sempre é totalmente natural, e não significa nada. Um paralelo fácil de entender é o mundo dos sonhos, pois um sonho pode significar muitas coisas sem que a pessoa tenha de sonhá-lo cinco vezes seguidas. Da mesma forma, quando se procura um conselho ou uma resposta no Tarô, só a primeira consulta é decisiva." [pg. 12] É o mesmo tipo de objeção pelo qual tenta-se provar a inexistência de Deus.
O método científico é ótimo para entender e explicar fenômenos quantificáveis, que mesmo que estes não consigam ser repetidos em um ambiente seguro, pelo menos encaixam-se em hipóteses e modelos explicativos lógicos.
E por mais que a psicologia evolutiva tente explicar e dar um caráter utilitário a paixão, ao amor e à amizade, ela só está explicando parte destas manifestações, pois jamais conseguirá compreender-lhes as sutilezas e as qualidades inerentes a estes fenômenos.
A reflexão de Banzhaf continua assim: "É possível confiar cegamente nas cartas? Elas nunca mentem? Naturalmente, como em todas as situações da vida, o Tarô nos dá acesso a uma verdade objetiva, absoluta e infalível. Mas nem por isso a resposta das cartas é aleatória ou sem sentido. A credibilidade das cartas do Tarô só pode ser comparada aos conselhos de uma pessoa velha e sábia. São conselhos valiosos, que devemos levar a sério e ouvir de coração aberto. Mas vender a alma por eles, tornar-se dependente, sujeitar-se cegamente ou abrir mão das próprias responsabilidades seria com certeza uma atitude errada."[pg. 12-13]
E para concluir: "Quando a resposta do tarô não é um conselho, mas uma previsão sombria, é preciso considerar que as cartas mostram uma tendência que deve se realizar com toda a probabilidade, caso você continue agindo da mesma maneira ou continue seguindo o caminho mencionado em sua pergunta. Essa tendência não é inevitável, pois as cartas podem mostrar alternativas melhores, ou mais promissoras." [pg. 19]
"[...] Fases difíceis da vida são às vezes inevitáveis, e certas experiências podem causar decepção, tristeza ou desgosto. O tarô também pode ser útil nesses momentos, ajudando-nos a entender os motivos de uma determinada experiência, a lição que ela nos ensina e a melhor maneira de lidar com ela." [pg. 19]

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