quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Tarô de Waite e o Tarô de Sola Busca

Por acaso, descobri um baralho de Tarô anterior ao de Rider-Waite-Smith que já tinha seus naipes numerados ilustrados. Tirando de Etteilla a pretensa originalidade das ilustrações dos Arcanos Menores. É mais um peculiar baralho (além do de Viéville) que Waite e Smith inspiram-se. Além de outras inspirações já tratadas aqui.

Seguem traduções de dois comentários que achei sobre o baralho e sobre sua suposta inspiração à Waite & Smith:

A Rainha de Copas nos baralhos de Sola Busca e de Waite-Smith
O baralho de Sola Busca é o único baralho completo do século 15. A data mais provável deve ser 1491. As cartas foram gravadas em cobre e depois pintadas à mão em cores. Os historiadores do Tarô, Giordano Berti e Sir Michael Dummett, sugerem que o baralho pode ter sido gravado em Ferrara e iluminado em Veneza. 

Em 1907, o proprietário das cartas, da família Sola Busca , tinha fotografias em preto e branco de razoável boa qualidade (para a época) do baralho completo. Um conjunto destas fotos foram apresentadas ao Museu Britânico (British Museum). Desde aquela época, a plataforma original nunca foi colocada em exposição novamente!

Logo após a recepção das imagens fotográficas em preto-e-branco do Tarô de Sola-Busca, eles foram colocados em exposição no Museu Britânico, em Londres. É provável que a experiência de ver esta exposição tenha servido de estímulo inicial para Arthur Edward Waite e Pamela Colman Smith para posteriormente criarem  seu próprio baralho de Tarô com todos as 78 cartas ilustradas, assim como todo o pacote de 78 cartas de Sola Busca é ilustrado.

Acredito que Pamela Smith teve muita inspiração das imagens renascentistas de Sola Busca. Ambos, Waite e Smith, como membros da Golden Dawn, estavam bastante familiarizados com a Alquimia Renascentista. Smith, em particular, estava familiarizada com roupas renascentistas e o simbolismo das cores, devido ao fato de que ela ter passado vários anos com uma trupe teatral na Inglaterra, tornando-se figurinista e cenógrafa. De fato, há semelhanças entre algumas das cartas numeradas de Sola-Busca e as figuras de Pamela. 


Como foi demonstrado por Giordano Berti e Sofia Di Vincenzo em um estudo publicado em 1995 (Alchemy em Sola-Busca Tarot, Torino - 1995 e Stamford - 1998) este é o primeiro Tarô verdadeiramente esotérico na história, porque suas imagens são claramente inspiradas pela tradição alquimista do Renascimento.

Em 2009, o Museu Pinacoteca di Brera, em Milão comprou o deck por 800 mil euros.

Já foram lançadas reproduções pela U.S. Games, LoScarabeo e uma edição limitada por Wolfgang Mayer. Todas fora de catálogo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em Busca do Baralho Perfeito IV... (uma comparação) - parte 2

Continuando o post de ontem, onde fiz comparações entre quatro baralhos diferentes tentando verificar qual seria o mais apropriado entre os Tarôs de Marselha. Já falei da decepção com o baralho de Jodorowsky/Camoin criada principalmente por causa de todas as promessas de redescoberta dos símbolos, do propósito e do significado "deste monumento da cultura ocidental"... que no fim se mostraram vazias.

Baralho de Sanchez/Rodes
Vejo, que em parte eles alcançaram o objetivo de restauração, principalmente em relação às cores, mas de resto... A dupla editou um novo baralho de Marselha, portanto não é uma restauração de um baralho antigo! E a outra dupla Sánchez/Ródes faz o mesmo, adicionando uma cor (horrível) de fundo nas cartas. Repito, infelizmente não há entre estes dois produtos um baralho restaurado, o que há são modificações visando a exclusividade para que se possa cobrar os devidos direitos autorais.

Quando alguém clama haver restaurado algo à sua condição original, o mínimo que se espera é uma evidência do que é considerado como original. No seu livro La Vía del Tarot Jodorowsky conta que o baralho original foi encontrado por eles no México, porém em nenhum momento este baralho foi exposto e pior ainda não é revelado nenhuma informação sobre quem , quando e onde este baralho foi feito. O máximo de informação que Jodorowsky dá sobre o baralho é que ele é de um traçado como o de Marselha, porém pintado à mão. E assim, foi usado como base para a reconstrução das cores originais.

Para os detalhes que não constam no baralho de Conver, Jodorowsky diz que “a versão de Nicolas Conver de 1760, possivelmente continha erros e omissões”. A premissa é a de que os impressores originais eram iniciados em uma tradição secreta (exatamente qual ele não diz) e quem não fosse um iniciado faria somente uma cópia, suprimindo detalhes importantes. Então o trabalho dele e de Camoin foi o de sobrepor diversos baralhos diferentes e assim verificar quais símbolos apareciam em uns e desapareciam em outros.

Diversos estudiosos do Tarô fizeram algo parecido com o que a dupla fez e verificaram que eles não só acharam supostos símbolos "perdidos" por impressores não-iniciados descuidados, assim como transformaram detalhes que originalmente eram dúbios em certezas absolutas. O “ovo” da Papisa, supostamente está no baralho de Suzanne Bernardin (1839) - ao lado - olhe você mesmo a carta e tire suas conclusões. As serpentes na carta Temperança, estão realmente lá? O tetragrama sagrado no esqueleto da morte?  De onde vieram? A porta da Maison Dieu está no baralho impresso por Jean Jerger (1800-1825) e no de Renault em (1820-1840) - ambos abaixo - que nem são baralhos tão antigos.

Relatos dos que participaram dos cursos ministrados por Philippe Camoin, informam que diversos detalhes nas cartas corroboram a lenda de Maria Madalena como portadora da semente de Jesus. Uma prova disso estaria no símbolo cristão do peixe no lago da carta Lua que dirige-se ao útero da personagem feminina (Madalena) da carta anterior, a Estrela.

Já o baralho da dupla de espanhóis Daniel Rodés e Encarna Sánchez o Tarot de Marsella supostamente possui “os antigos ícones do Tarô reconstruídos”. É praticamente um clone do baralho de Camoin/Jodorowsky. Porém, da mesma forma que a outra dupla, também adicionam detalhes que irão corroborar uma teoria/lenda: a Lenda dos Cátaros, de Maria Madalena etc. A história deste baralho inicia-se quando seus criadores separaram-se da casa impressora de Philipe Camoin criando sua própria escola a Escuela Internacional de Tarot de Marsella - Le Mat. No seu El Libro de Oro del Tarot de Marsella a primeira edição utiliza o baralho Jodorowsky/Camoin. Já a nova edição lançada por outra editora utiliza o baralho pretensamente denominado de "reconstruído".

Conclusão

Ambos os baralhos não são os Tarôs de Marselha reconstituídos. São Tarôs de Marselha pasteurizados modernos, idealizados por uma premissa de religiosidade nova era, onde você escolhe no que vai acreditar e a quem irá prestar culto, resumindo, um fast-food espiritual.

O problema todo é resumido na pretensão que estes autores têm em reclamar que seus baralhos sejam os verdadeiros Tarôs de Marselha, que sejam os Tarôs com suas características tradicionais restauradas... Pois não é verdade, podem ser ótimos baralhos, bonitos e realizados por pessoas competentes e inteligentes, mas que não revelam antigos segredos esquecidos ou perdidos.

Como não sabemos exatamente como originalmente foram criadas estas imagens, quem reconstrói elas no século XXI, está fazendo escolhas no século XXI. Ao se utilizar vários baralhos diferentes para se chegar a um baralho novo, não se está recuperando a intenção real de seus criadores, até por que não se sabe quem criou o Tarô de Marselha. Nestes dois casos analisados há uma intenção definida ditada por uma teoria ou lenda, forçando as imagens a terem um determinado aspecto. 

O novo homem sendo forjado no atanor através do ovo alquímico.
De costas está Jodorowsky, no papel do judeu/alquimista,
no filme Montanha Sagrada, de 1973.
Conhecendo um pouco da obra artística de Jodorowsky (principalmente o filme Montanha Sagrada) entende-se que desde muito tempo o autor é atraído à simbologia alquimista. Já sua abordagem terapêutica (a Psicomagia e a Psico-genealogia) dá a pista de como esse projeto começou, em algumas conferências Jodorowsky mencionou o valor terapêutico da trampa sagrada, ou seja, mesmo uma mentira pode ser valiosa quando pode curar alguém. E é público o estado de Philippe (dito Camoin) antes do lançamento deste baralho: estava recluso em sua casa e o único contato que mantinha com o mundo exterior era através da televisão. Se o objetivo público de lançar um Tarô de Marselha reconstituído não foi alcançado, ao menos o objetivo privado foi muito bem atingido.


Fontes Pesquisadas

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Em Busca do Baralho Perfeito IV... (uma comparação) - parte 1

Jodorowsky/Camoin
Na busca do baralho perfeito comecei uma comparação entre o Tarô publicado pela Heron (que já havia comentado  aqui)  com o baralho restaurado por Jodorowsky-Camoin... Ainda não disponho dos baralhos de Flornoy para realizar qualquer comparação ou estudo. Porém não esperava que isso fosse dar tanto pano para manga. E confesso que o resultado final foi de pura decepção, principalmente com o baralho de Jodorowsky/Camoin (ao lado) pelo qual nutria diversas expectativas. Claro que essas expectativas foram plantadas pelos mesmos e por todas as resenhas positivas que havia lido em português, pois não economizam tinta para dizerem que a dupla fez um trabalho de resgate da “pureza” e da “Verdade Tradicional” do Tarô de Marselha. Quanto mais eu pesquisava, mais verificava que é sim, um belíssimo Tarô de Marselha, mas que não tinha nada a ver com o que pregavam. Tentarei, em dois posts, ser o mais claro possível, condensando meus mais de dois meses de pesquisa.

Informações oficiais sobre o baralho de Jodorwsky/Camoin podem ser encontradas no Clube do Tarô e no próprio site reservado ao baralho da dupla em português.

Heron
O Tarô de Marselha da Heron (à direita) é uma foto-reprodução da cópia preservada na Biblioteca Nacional da França da impressão de 1760 de Nicolas Conver.

Encarnando o Diabo...
Na mesma semana em que comecei este trabalho recebi de um amigo um link para uma série de 22 vídeos: Las Fuerzas Vivas del Tarot. Onde Encarna Sánchez encarna cada um dos personagens dos Arcanos Maiores. Ela apresenta reproduções grandes das cartas do Tarô de Marselha com fundo dourado escuro. Na série de vídeos ela dialoga com as ilustrações, desenvolve situações que relembram o significado e a possível origem das cartas. 

De acordo com ela o baralho apresentado é o baralho marselhês por excelência, pois está com seus "antigos ícones reconstruídos". A mesma proposta de Camoin e Jodorowsky. E não tem como negar, as imagens dos dois baralhos são muito parecidas. Porém, alguns detalhes do baralho da dupla espanhola não está presente no baralho de Jodo/Camoin. No seu site oficial Le Mat - Escuela Internacional de Tarot de Marsella, há alguns comentários sobre suas vantagens, mas nada que explique como essa reconstituição foi realizada.
CBD Tarot de Marseille -
o Tarô de Conver
 restaurado por
Yoav Ben-Dov

Transformei os vídeos para DVD e assim consegui comparar os três baralhos ao mesmo tempo. Coloquei na parada também as imagens digitais da recente restauração realizada pelo israelense Yoav Ben-Dov, que foi aluno de Jodorowsky, o CBD Tarot de Marseille.

Apresento minhas observações:

Todos os quatro baralhos são bem semelhantes tanto no uso de cores, quanto ao posicionamento e gestos dos personagens. Só são iguais o Tarô da Heron e a restauração de Yoav Ben-Dov. O que me faz acreditar que o israelense usou exatamente estas cartas para realizar sua restauração, isso ficou evidente com a comparação entre as Torres de ambos. Há um esfumaçado que permaneceu na versão de Yoav. Ele também tem alguns vídeos no Youtube, onde diz que a modificação que fez foi no traçado dos rostos dos personagens. 

Questionado em um fórum gringo sobre Tarô ele respondeu que “esta não é uma replica do original de Conver, mesmo tentando ser o mais fiel possível ao original, adaptei as imagens para as novas técnicas de impressão e para as sensibilidades visuais da atualidade: cores mais vividas, linhas mais suaves e expressões humanas mais leves".

Uma conclusão já é possível: o baralho restaurado por Yoav Ben-Dov é uma reprodução fiel ao gravado por Nicolas Conver em 1760. Há adaptações, mas nada é adicionado ou subtraído das imagens.
A esfinge no baralho de
Rodés/Sanchez

Agora me intriga os detalhes que os baralhos de Jodorowsky e de Sanchéz possuem, às vezes os detalhes que ora estão presentes em ambos ora estão em somente um. Os dados do Mago, a porta da Maison-Dieu, o ovo do Imperador e da Papisa não estão nas tábuas de Conver e quem for atrás irá verificar que ou vieram de outros baralhos nem tá antigos e que outros detalhes foram adicionados. No vestido da Papisa de Sánchez, há um detalhe que não há em nenhum outro, que seria uma Esfinge (que meda!). Porém em nenhum momento, ninguém diz de onde vieram estes detalhes.

E foi aí que complicou tudo, se estes símbolos não estão em Conver, o que estão fazendo nestes baralhos? Como as explicações nos sites de ambos são insuficientes parti para a pesquisa.

Para não alongar demais, esse post continua amanhã, com tudo o que descobri sobre os baralhos de Jodorowsky/Camoin e de Rodés/Sanchéz.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Em Busca do Baralho Perfeito III... (Estudos Iconográficos)

Como  o estudo iconográfico que tenho empreendido tem me deixado cada vez mais desgostoso com o baralho de Rider-Waite, passei a procurar um novo baralho, que guarde a riqueza original, seguindo duas premissas:
  • que não siga modismos e nem seja voltado à iniciação de seitas ou grupos esotéricos; e

  • que tenha ligação com suas origens e, consequentemente, com as motivações culturais de quem moldou essas imagens (sobre isso já falei em duas oportunidades aqui e aqui).


As evidências que tenho colhido é a de que: quem gera novos baralhos está querendo impor uma maneira própria de encarar a vida, adicionando símbolos condizentes à sua doutrina (no caso de Waite, Wirth, Crowley) - ou ao seu bolso (no caso dos baralhos modernos).

Desta forma, o caminho mais coerente seria o de procurar os baralhos mais antigos e quem sabe o baralho original, mas isso não é tão fácil. Mesmo com todas as descobertas dos últimos 20 anos, não se sabe se houve um baralho original. Somado à isto, dos baralhos mais antigos poucos restaram completos. Estes eram baralhos realizados por encomendas de casas reais e para exclusivo uso da nobreza.



Em um primeiro momento, estas opções ficam excluídas, restando os baralhos do Tarô de Marselha. E aí há um grande número de opções. As remodelações e edições modernas como a de Fournier (à esquerda) e a da Aliados da Arte (à direita) ficam de fora. De acordo com este artigo da Bete Torii sobre o Tarô de Marselha, no Clube do Tarô, também serão excluídos:




A Papisa
por Kris Hadar

  • o baralho da Grimaud, editado por Paul Marteau, que não reproduz as cores utilizadas nas primeiras edições do século XVIII, por uma deficiência tecnológica da época a paleta de cores impressas foi diminuída;

  • o baralho restaurado por Kris Hadar, que apesar de apresentar uma colorização suave e agradável aos olhos, fez adições inexplicáveis a algumas cartas.



Restando os baralhos de Jean Noblet e de Jean Dodal (os mais antigos Tarôs de Marselha) restaurados por Jean Claude Flornoy e o Tarô restaurado por Alejandro Jodorowsky e Philippe Camoin. Entre estas opções o mais atraente em termos de apelo iniciático e de traçado (mais limpo e suave, seguindo o modelo de Nicolas Conver) é o restaurado pela dupla, que na palavra dos mesmos: "é um trabalho onde a Verdade Tradicional foi restaurada."

Porém, as datas do baralhos de Jean Noblet (que antecede em mais de um século o baralho de Conver) e de Jean Dodal são convidativos para se adentrar no contexto cultural dos imagineiros, como diz Flornoy.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Louco e Miseráveis

Uma das Canções dos Goliardos, jovens artistas, irreverentes, meio monges, mambembes e sem dinheiro, diz assim:

"Se o sábio
tem o costume
de construir sua morada
sobre a rocha
então sou um louco
pois sou como a corrente que avança
e cujo curso
jamais se detém
sigo adiante
como um barco sem piloto
como um pássaro vagando
pelos ares
nada me detém
nem chave nem grilhões
procurando meus semelhantes
junto-me aos miseráveis."


O grifo é meu.
É fácil verificar a quem, no Tarô, estes versos referem-se. Entre os medievais as figuras do Tarô eram recorrentes. E relembro da carta do Tarocchi di Mantegna, onde o Louco é nomeado de Misero. Le Fou, Fool, Le Mat, Misero... Nomes diferentes, mas com a mesma iconografia. E ouso dizer, com uma origem histórica e cultural bem definida.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Rabo de Estrela

Não, não... este não é um post sobre partes avantajadas de celebridades.

Na hora do lanche das crianças, das turmas da manhã, uma menina muito simpática e que gosta muito de mim, veio me mostrar toda feliz um livrinho que ela havia retirado na Biblioteca: Estrela-de-Rabo. Finjo interesse, finjo surpresa - quantas vezes as crianças vem nos mostrar a mesma coisa?

Porém, no meu fingimento vou folheando e vejo que há algumas figuras em preto-e-branco e uma delas é a carta o Enforcado, do Tarô Mítico


O trabalho artístico da carta é horrível, mas me interesso mesmo é pelo livro.

Que surpresa!!!

Quantas vezes gestos banais e repetitivos podem nos surpreender? Ou eles sempre têm algo a nos surpreender, mas o nosso filtro barra?

Estrela-de Rabo, da Nilma Lacerda, editado pela Frente Editora, é um livro de contos que possuem em comum o mistério e a magia, ambientados em locais familiares aos brasileiros.

É no conto "Que história mais doida, essa!" que o Tarô aparece, de forma discreta nas mãos de uma cigana numa favela. Para se ter uma idéia do enredo a carta que aparece para o protagonista é o Enforcado.

É uma ótima leitura rápida e divertida. Recomendo!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Botticelli & Pamela Colman Smith

Quais paralelos há entre o 3 de copas e a Primavera de Botticelli?

Três de copas Waite-Smith

Detalhe da primavera de Botticelli:
as Três Graças
 


No quadro de Botticelli percebe-se a temática mitológica grega, Cupido, Vênus e Mercúrio (na extrema esquerda). As três jovens dançando, à esquerda na pintura, são as Três Graças (Aglaia, Tália, Eufrosina), símbolos da sensualidade e da beleza, que sempre acompanham Vênus. Representam a alegria, o encanto e a beleza, em sua celebração.

Mais sobre as graças, aqui.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tarô da Heron

O Louco no Tarot de Nicolas Conver (1760)
Depois de muito namoro e pesquisa comprei o Tarô foto-reproduzido de Nicolas Conver elaborado pela Herón (1760). Exatamente como está na Bibliotèque Nationale de France (BNF)Fiz a compra por um site britânico, que pelos meus cálculos, de conversão da Libra esterlina e pela dedução do imposto VAT (só é cobrado aos europeus), valeu bastante a pena. 

O Louco no Tarot de Marseille restaurado por Jodorowsky e Camoin


Não tenho certeza, mas pelo que vi é a base das gravuras utilizadas por Jodorowsky e Camoin para a reconstrução de seu Tarô. 



Esses baralhos foto-reproduzidos possuem um charme bacana, pois suas cores possuem um tom naturalmente desgastado. Parecendo que já foram utilizados inúmeras vezes. A sorte, o amor, a fortuna de milhares já passaram por suas desgastadas lâminas....

domingo, 22 de maio de 2011

Como Tirar a Sorte pelas Cartas - Madame Zenaira

Aproveitando um dia agradável de outono, saímos a passear em São Leopoldo e na garupa levei uma sacola enorme de gibis para trocar num sebo de São Leopoldo. 

Após realizado o acerto com a dona. Vou para a escolha. Entre as várias possibilidades me chama a atenção que sempre pinta um exemplar, relativamente barato, de Tarô dos Anjos, da Monica Buonfiglio. Mas algo me diz que não é boa coisa. Em qualquer livraria você encontrará Tarô Adivinhatório no mínimo duas cópias, também saio de costas... 

Me chamou atenção um livro de autoria da Madame Zenaira: Como Tirar a Sorte pelas Cartas (da Ediouro). 

Seria um livro completamente descartável, por várias razões: autora, conteúdo do livro (baralho comum), capa horrível... Porém verifiquei que o forte de seu comentário referia-se ao baralho de cartas comum, mas de 32 cartas... E 32 cartas são os baralhos Le Jeu du Destin AntiqueBiedermeier Antique. Estes pequenos oráculos são tinhosos para quem, como eu, não entendem muito de adivinhação. Pois os livretos que acompanham cada baralho são vagos quanto ao significado das cartas, no livreto do Le Jeu du Destin Antique chega ao absurdo de não dizer nada sobre as alegorias presentes nas imagens das cartas. 

Pesquisei alguns sites que vendem alguns manuais de interpretação destes dois baralhos, como no TarotPDF. Mas o preço me desencorajou... 

Aí que entra Madame Zenaira (porque esse nome? qual o problema com o nome da pessoa?) e seu desprezado livro como um substituto barato para a interpretação destas 32 cartas. Falarei dessa experiência no futuro.

Voltando ao livro. Como falei o a maior parte do livro debruça-se sobre os significados das 32 cartas e diversos métodos de leitura e interpretação. Há nada menos que oito esquemas para leitura destas 32 cartas do baralho (às, rei, rainha, valete, dez, nove, oito e sete de cada naipe). Em nenhum momento Zenaira fala em Cabala, em psicologia junguiana, alquimia, ou hermetismo. Nem mesmo a famigerada relação dos quatro elementos com os quatro naipes é mencionada. Acredito que deva ser a interpretação de muitas cartomantes, algo básico, sem firulas...

Há pérolas como jogos de amor entre dois ou mais participantes (mènage?); jogo do Cupido e do Himineu; jogo do Matrimônio.

Por fim, há diversos métodos adivinhatórios (dominó, unhas, bolo de cristal, fisionomia, clara de ovo, Tarô, dados...) isso em menos de quarenta páginas. Terminando com algumas simpatias. Até as adolescentes vão gostar desse fantástico livro, hehehe!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Waite & Viéville

O Sol no Tarô Rider-Waite-Smith
tarot Viéville, arcane XIX
Navegando pela internet verifiquei que a carta O Sol de A. E. Waite possui um paralelo com a gravura feita, supostamente, por Jacques Viéville para seu Tarô tipo de Marselha. Pesquisando mais pude perceber que os estudiosos deste Tarô consideram-no meio misterioso, por diversas particularidades que só estão presentes nesse baralho.

Porque será que Waite bebeu nesse baralho?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Documentário sobre o Tarô: Tarology!


Enquanto estava fazendo o dever de casa pesquisando sobre a forma de interpretação de Enrique Enriquez (seguindo a sugestão dada por Rasa) e tentando fugir do resultado negativo encontrado em http://enriqueenriquez.net/index.html (com propagandas de domínios de internet). Achei este interessante projeto: http://www.indiegogo.com/Enrique-Enriquez-Project.



Me empolguei mesmo! Estão em fase de arrecadação, através de Financiamento Coletivo (crowdfunding). Dê uma conferida nos trailers e se calhar, contribua! Se der certo, vou ganhar uma carta de Tarô autografada.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Leitura de Tarô em Montevidéu

Sabendo que iria passar o feriadão em Montevidéu, fiz uma pesquisa rápida na internet sobre Tarô no Uruguai e sem querer me deparei com o blog de Rasa. Após uma breve troca de e-mails marcamos para que ao chegar na cidade, telefonasse.

A moça foi muita simpática, fazendo um grande esforço para me entender e me proporcionando uma leitura no mínimo inusitada. Enquanto ela interpretava as cartas em inglês (ela é canadense) eu respondia em portunhol...

Detalhes sobre a leitura não preciso dizer só que foi sobre trabalho e que ela me passou bastante segurança.

Feita a leitura, me perguntou se queria saber mais alguma coisa (senão teria de cobrar um extra) se não, poderíamos conversar. Optei pela conversa. O que foi muito interessante!. Ela me mostrou diversos maços de Tarô que ela coleciona, uns bem antigos e que desconhecia.

Um dos baralhos foi produzido por um feitor de cartas italiano: Osvaldo Menegazzi, que cria e reproduz baralhos de forma artesanal e limitada. São lindos e verdadeiras preciosidades suas reproduções fiéis de antigos maços. Quem deseja se aventurar (nas linhas, cores e preços) pode conferir o catálogo aqui.

E quando estávamos comentando sobre formas de leitura e interpretação, me indicou o nome de Enrique Enriquez. Que, de acordo com Rasa, interpreta as cartas de acordo com o significado poético que o desenho do Tarô de Marselha revela. Tentei fazer uma pesquisa rápida sobre o seu nome, mas não apareceu nada...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Riqueza original do Tarô?


Desde que li esse trecho de um texto do Constantino K. Riemma, no Clube do Tarô, tenho repensado o uso que tenho feito do baralho de Waite, veja:


O Dez de Espadas do baralho Rider-Waite ajuda a exemplificar essa freqüente contradição entre o que é propalado como fundamento e o resultado concreto.

Nessa carta fica clara a enorme distância simbólica entre o aniquilamento de um homem, abatido pelas costas com uma dezena de espadas, e os múltiplos atributos e significados do elemento ar (naipe de espadas) e do número dez (o retorno do conjunto à unidade). Diante de um fato como este, faz sentido a crítica de que, com essa figuração, Waite "não só liquidou com o personagem, mas também enterrou a riqueza de significados esotéricos do Dez de Espadas".



Soa, para mim, que o baralho de Rider-Waite-Smith diminuiu a riqueza original... O que fazer? Desistir de tudo? E se desistir, onde está a riqueza original?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Guillaume Postel, os quatro elementos e o Tarô - um erro.


Quando chegou à minha mão o livro Tarô, Ocultismo & Modernidade do Nei Naiff, debulhei a leitura para ver se encontrava o que estava me intrigando desde esse post. Ou seja, à procura de maiores detalhes sobre a relação dos quatro elementos com os quatro naipes do Tarô que Postel foi, supostamente, o primeiro a definir.  E mais importante ainda: seria uma relação estudada trezentos anos antes de todos os outros ocultistas que - em grande parte e na minha opinião - mais confundiram do que explicaram o Tarô! Infelizmente Naiff não dá maiores detalhes de como esta proposta foi realizada por Postel, tampouco diz em qual edição de Clavis Absconditorum ele consultou. Sua tese é que somente Eliphas Levi irá reabilitar e dar o devido crédito à Postel, isso quase no fim do século XIX.

Porém em todas as fontes que pesquisei, não encontrei nada que diga que Postel sequer conhecia o Tarô. Na minha opinião é um pequeno erro de apreciação que Naiff cometeu e não tira a credibilidade muito menos a relevância de seu trabalho, que é justamente a de desmitificar o universo do Tarô e de esclarecer sua história.

No "Prefácio Biográfico" assinado por Arthur Edward Waite em 1896 para o livro de Lévi: Dogma e Ritual de Alta Magia (que não consta no livro da edição brasileira da Editora Pensamento). O inglês comenta ironicamente que Lévi gostava de percorrer as obras e não de aprofundar-se nelas e continua:
"Um dos trabalhos mais citados por Lévi e com maior reverência é o trabalho de Postel, porém Lévi nunca se deu ao trabalho de verificar que a chave que lhe era tão cara era na verdade um adendo de uma edição posterior". - (Tradução minha de uma edição em inglês).
O editor em questão foi Abraham von Frankenberg, que adicionou esta chave (abaixo) em 1646, como uma interpretação pessoal do que Postel escreveu em 1546. Porém, que fique claro, nem Postel nem Frankenberg deteram-se sobre o Tarô. Essa suposta ligação é feita por uma interpretação errônea de Eliphas Lévi. 

Chave de Frankenberg, que Lévi considerou como sendo de Postel. Que posteriormente foi reinterpretada pelos ocultistas do século XIX como Papus, Zain e Waite.
Assim Levi interpreta a tal chave:
"Os verdadeiros iniciados, dizemos nós, que conservam o segredo do tarô entre os seus maiores mistérios, se guardaram de protestar contra os erros de Etteilla, e não o deixaram revelar, mas velar de novo o arcano das verdadeiras clavículas de Salomão. Por isso, não é sem profunda admiração que achamos intacta e ignorada ainda esta chave de todos os dogmas e filosofias do mundo antigo. Digo uma chave, e é realmente uma, tendo o círculo das quatro décadas para anel, a para haste ou corpo a escada dos 22 caracteres, depois para dentes os três graus do ternário, como o entendeu e figurou Guilherme Postel, na sua Chave das Coisas Ocultas desde o Começo do Mundo, chave da qual indica o nome oculto e é conhecida unicamente pelos iniciados [à esquerda]
palavra que se pode ler Rota, e que significa a roda de Ezequiel, ou Tarô, e então é sinônimo do Azoth dos filósofos herméticos. É uma palavra que exprime cabalisticamente o absoluto dogmático e natural; é formado dos caracteres do monograma de Cristo, de acordo com os gregos e hebreu".


De acordo com Michael Hurst, aqui: "Eliphas Levi elaborou uma ficção no século XIX, sobre uma ilustração do século XVII, para um livro [de Postel] do século XVI." E muitos ocultistas querem justificar tudo isso no século XXI. 

Nesta página aqui, há um artigo que comenta sobre essa confusão e as possíveis inspirações que Frankenberg teve para a dita chave.

Quanto as considerações de Naiff, acredito que ele tenha se baseado em Papus. Este em O Tarô dos Boêmios, ao desenvolver as relações entre as figuras dos Arcanos Menores, seus naipes e ao Tetragrama sagrado, relembra Postel e Levi:
"Todos os autores que estudaram o aspecto filosófico do Tarô reconhecem unanimemente a correspondência entre o tetragrama e os quatro naipes. Guilherme Postel, e sobre tudo Eliphas Levi, desenvolveram estes estudos com proveito mostrando-nos como as quatro letras do tetragrama são aplicadas ao simbolismo de todos os cultos". - (Tradução minha de uma edição em espanhol).
Pelo teor das conclusões de Papus, me parece que Naiff  tenha retirado destas páginas o que ele considerou ser de Postel.

Quem quiser e tiver culhão sagacidade para isso, pode verificar o original Clavis Absconditorum a Constitutione Mundi (Chave para coisas ocultas desde a fundação do mundo), em latim, na Biblioteca Nacional da França. Se não funcionar tem este outro link.

O que me intriga é que Arthur Edward Waite mesmo sabendo desta confusão perpetuou a falha quando comissionou com Pamela Smith a realização de seu Tarô. A dupla referendou tal ligação com o Arcano Maior de número dez, A Roda da Fortuna. Por que Waite? Porquê?

De acordo com Papus esta é: A Chave 
Absoluta para a Ciência Oculta.
Quase toda a viagem de Lévi está aqui: as
criaturas de Ezequiel, ROTA,
Tetragrama e os símbolos
alquímicos.





















Isso tudo toma dimensões insanas surrealistas quando se vê gente publicando essas chaves (Frankenberg, Zain, Papus e Waite, misturando com suástica, tibetanos e templários) e interpretando-as para dizer que encontrou um código para o dia do juízo final. Não vou dar o endereço do rapaz aqui, porque ele não merece, merece o hospício ou algum medicamento... Mas é interessante verificar como pega, essas conversas de conspirações, segredos, "estão ocultando isso de você" etc.

Concluindo...

Através das fontes pesquisadas é possível concluir que Postel não é o primeiro ocultista a estudar o Tarô e por isto nenhum outro ocultista trouxe à tona sua obra relativa às cartas, a não ser através de Eliphas Levi que apressadamente construiu essa relação. Será Papus em O Tarô dos Boêmios que irá fazer a relação direta entre as letras do nome de Deus, os quatro elementos e os naipes do Tarô.

Por enquanto, não há evidências de que o Tarô tenha sido tratado por algum hermetista, cabalista, astrólogo ou filósofo anterior aos apontamentos de Court de Gebelin e do conde de Mellet.